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15/08/2011 / Igreja Agape

Deus não usa paredes.

Numa dessas twittadas do um ponto um, rolou a expressão “Deus não usa paredes”. Parece uma frase boba, explicativa, mas é mais do que isso. É quase um sinal, eu acho. Pensa o seguinte: por que tanto ar entra e sai do seu pulmão? Por que tantas oscilações entre o que é bom e o que não é? Por que tantos altos e baixos emocionais? Por que queremos tanto as coisas, e sofremos e nos damos e lutamos por elas? Será que a prova da existência de Deus não está exatamente nisso tudo? Nas controvérsias, em você testando os seus próprios limites, em você sofrendo e desejando coisas maiores, coisas como amor, coisas como refúgio e descanso para a alma. Por que essas coisas não podem ser Deus querendo a sua atenção? E por que a gente ignora todo esse rock and roll e agimos friamente, imitando paredes que não sentem nada? Por que nós nunca admitimos que não sabemos lidar com toda a nossa humanidade? Com todas as nossas dúvidas (que são mais do que naturais)? Nós somos contraditórios, nós somos vulneráveis, nós somos frágeis. Por que não transformamos isso numa experiência real ao invés de bancar a imagem politicamente correta de um ser humano sem mais opções? Por que essa mania de querer ser uma parede branca, sem erros, sem lascas? As pessoas entram e saem da nossa vida, nós penduramos quadros em nós mesmos, passamos mais uma mão de tinta, mudamos a mobília, mas tem dias que morremos de medo de desmoronar, né?

Nós não somos paredes, mas por que estamos tão cimentados por dentro? É estranho.

Eu não sei, mas acho que Deus não criou você para ser um patrimônio tombado. Ponto turístico. Muro queimado. Acho que não. Acho que há coisas em você que não há em mais ninguém. Acho que a sua existência, suas dores e perrengues, seus bons momentos e experiências emocionantes têm sim muito a ver com a existência de Deus. Sabe, ele não é um senhor britânico, esperando você acordar inspirado, dobrar os seus joelhos e fazer uma oração comovente com palavras de cinco sílabas, no way! Deus quer a nossa atenção. É por isso que sentimos tantas coisas. É por isso que sentimos coisas que ninguém entende.  E porque Ele é o criador de toda essa aparente bagunça, a notícia é que já é tarde demais. Ele já se envolveu com as suas coisas. Ele sabe mais sobre você do que você mesmo. Não é louco? Esse é o tipo de relação que Deus quer ter com uma pessoa. Precisa ser profundo, você precisa sentir. É entrega e relação. Fluxo e conexão. É dor e cura. Esse é o nível. Só vale se for de verdade. O resto é religião, hipocrisia, regra, método, letras vazias. Perda total de tempo.

Você não é uma parede, ou uma construção. Mas ainda que você se sinta assim, tem N passagens na bíblia onde Deu nos compara com cidades. E é real, porque as vezes somos cidades lindas, iluminadas, badaladas, desejadas. E outras vezes somos um desastre. Entulho, ruína, um vale seco, sem vida aparente.

Deus usa esses exemplos para que mais uma vez o a gente entenda a mensagem. Deus usa comparações desse tipo porque ele é criativo o suficiente para fazer você entender que independente do jeito que você está, ele consegue mudar tudo. Vai ver é mais do que criatividade. É uma vontade enorme que ele tem de estabelecer uma relação com você. Deus fala a língua dos destruídos. Vai ver é amor.

No fim das contas, Deus não usa paredes, mas passeia no meio das ruínas, procurando seus pedaços, acreditando em cada osso quebrado, em cada história perdida. Deus acredita em pessoas que não acredita nelas mesmas. E ele foi taxado de louco, de suicida, e sonhador justamente por isso. Ele acredita no que ninguém mais acredita. Desde que o mundo é mundo Deus se move em coisas aparentemente sem forma e vazias, transformando elas nas coisas mais incríveis que existem. Ainda que leve sete dias para que elas fiquem perfeitas, ainda que alguém tenha precisado morrer para você entender o quanto vale a vida e o hoje. O resto é passado e rachadura.

Escrito por Luciana Elaiuy

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